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VINHOeXIMA

VINHOeXIMA

Colossos do Douro

25.05.22, VinhoeXima

Colossos do Douro.png  

Voltar ao Douro é sempre um momento especial para mim. No meio da azáfama das rotinas diárias é imperioso retornar a lugares que nos enchem a alma e nos transportam para momentos mágicos.

O fim de semana passado foi mais um daqueles momentos passados nesta rica região que ficarão certamente na minha memória e na dos meus amigos do grupo Bacos do Digital, um conjunto de enófilos que expressa e promove a sua paixão pelo Mundo do Vinho na esfera digital.

Sob a batuta de dois dos mais fervorosos Bacos do Digital, a Justina Teixeira (Quinta da Barca) e o Miguel Ferreira (Lei do Vinho) fomos convidados a conhecer melhor alguns dos melhores projetos vínicos da atualidade no Douro. Com as expetativas bem lá no alto, fomos recebidos no primeiro dia de forma muito calorosa pela Justina Teixeira na Quinta da Barca (Mesão Frio), local escolhido para este encontro, e cujas magníficas paisagens sobranceiras ao rio Douro deixam qualquer enófilo maravilhado.

Com a chegada de um convidado inesperado, o nosso famoso Leitão da Bairrada, fomos convidados a viajar no tempo através de uma magnífica prova comentada pelo Miguel Ferreira acerca dos espumantes da Bairrada e a sua evolução ao longo dos tempos.

Mas como o tema era sobre os Colossos do Douro, estava na altura de dar o devido protagonismo aos nossos ilustres convidados – Tiago Alves Sousa (Alves de Sousa), Jorge Alves (Quinta Nova/Quanta Terra), Patrícia Santos (Enóloga/Produtora), Carla Tiago (Enóloga/Quinta da Boavista/Sogevinus), Carlos Alves (Enólogo/Sogevinus), João Luís (Enólogo/Ramos Pinto) e Rafael Miranda (Enólogo/Mãos).

Ao longo de uma mesa farta fomo-nos entregando às harmonizações espontâneas propostas pelos nossos convidados que nos brindaram com excelentes vinhos, nos quais destacaria algumas autênticas raridades, como o Alves de Sousa Pessoal Branco 2016, Duas Quintas Branco 2014, Mãos Branco 2015, Mirabilis Rosé 2019, Quinta Poço do Lobo Tinto 1991 e a Tinta da Barca 2019 (Ramos Pinto), único produtor a usar esta casta a nível mundial. Se os vinhos referidos anteriormente captaram a minha atenção, então o que dizer dos vinhos de homenagem Rosa da Mata Branco 2020 (Dão/Patrícia Santos) e pela Rosa Celeste Rosé (Tiago Sousa).

A dado momento pergunto-me porque será que os vinhos de homenagem são tão bons? Ao que o Jorge Alves responde assertivamente “todos os vinhos são uma homenagem”. Não podia ser mais verdade, pois todos os vinhos são em última análise uma justa homenagem ao território, às suas castas, em acima de tudo à valentia das suas gentes que trabalham neste difícil setor.

O primeiro dia caminhava para o seu fim, mas antes haveria ainda um final de tarde épico que harmonizou a magnífica paisagem com alguns vinhos trazidos pelos Bacos do Digital e ainda com o soberbo arroz de favas preparado “à la minute” pelo Miguel Ferreira.

Retemperados do dia anterior com uma excelente noite de sono, damos início ao segundo dia do nosso périplo pelo Douro, tendo como destino Favaios para visitar o projeto Quanta Terra dos inconfundíveis Jorge Alves e Celso Pereira.

Recebidos de forma entusiástica pelo Jorge Alves no seu projeto pessoal Quanta Terra, uma antiga destilaria da Casa do Douro, entretanto recuperada e transformada numa magnífica adega onde para além de preservar grande parte dos elementos originais, tornou-se num espaço onde a Arte é sempre bem vinda. Para além da enorme beleza do espaço, somos absorvidos pelas magníficas instalações artísticas da conhecida artista Joana Vasconcelos que para além de assinar o rótulo de alguns vinhos, estabeleceu uma parceria com o produtor para expor temporariamente algumas das suas obras, nas quais destacaria o enorme coração em jeito de filigrana, elaborado com materiais alternativos, que preenche sensorialmente toda uma sala da adega, acompanhada por alguns conhecidos fados da Amália Rodrigues.

Feito o habitual tour familiar, era altura de se juntar ao convívio o outro elemento deste projeto, o reputado enólogo Celso Pereira. Na sua magnífica sala de provas, fomos brindados pelos nossos anfitriões com três vinhos que ficarão seguramente na memória dos presentes – Terra a Terra Branco 2021, Quanta Terra Branco 2019 e o portentoso Quanta Terra Inteiro 2011 (e que vinho, meus Amigos).

Depois um enorme repasto ao almoço em que pudemos repetir alguns dos sucessos deste grande projeto, ficou a certeza de que, para além da enorme generosidade e partilha de conhecimentos por parte destes dois grandes enólogos, existe uma enorme cumplicidade e respeito nesta união que seguramente continuará a dar imensos frutos no futuro.

E como a agenda ditava, havia ainda mais um destino final a visitar, a região de Távora Varosa e mais concretamente as Caves Murganheira. Saindo da magnífica região do Douro, rapidamente percebemos que estávamos a entrar noutra região com enormes predicados e cujo terroir único, pautado pelos solos graníticos e elevadas amplitudes térmicas, permitem criar dos melhores espumantes nacionais e quiçá do Mundo.

Mas para além deste excelente terroir, resta ainda o extremo labor e mestria das suas gentes e em particular da sempre modesta enóloga Marta Lourenço, a principal responsável pela elaboração destes magníficos espumantes.

Visitando as instalações sob a supervisão da nossa ilustre guia, rapidamente se percebe o grau de profissionalismo e aposta na qualidade em que assente o sucesso destes magníficos espumantes. Para além de um forte intercâmbio de conhecimentos com a academia e com a região de Champanhe (região donde veio a primeira ajuda enológica para este projeto), existe ainda o forte compromisso por parte da Administração em realizar os investimentos necessários para dotar as Caves Murganheira (Távora Varosa) e as Caves Raposeira (Douro) das condições necessárias para se produzirem estes espumantes únicos.

Das cerca de 3.500.000 garrafas de espumante produzidas anualmente, cerca de 80% são consumidas em Portugal, sendo o remanescente direcionado para a exportação.

Após a sempre obrigatória visita às “catacumbas” (de origem granítica) onde estagiam estes magníficos espumantes durante longos estágios, era o momento de encerrar esta nossa visita com uma magnífica prova de diversos espumantes Murganheira onde se destacam – Murganheira Malvasia Fina, Murganheira Touriga Nacional, e dois exemplares raros, um Cercialinho de 1991 e um Vinho espumantizado através do método ancestral (o vinho é engarrafado antes do final da fermentação alcoólica, permitindo assim que o processo fermentativo termine dentro da garrafa).

Se ainda havia dúvidas, elas ficaram dissipadas no final deste fim de semana, o nosso País tem uma enorme riqueza e diversidade vínica inigualável que merece ser melhor explorada quer pelos portugueses, quer por quem nos visita.

Um brinde a este património nacional e acima de tudo a todas estas Pessoas especiais, que com enorme sacrifício e abnegação, nos proporcionam tanto prazer com os seus Vinhos.

Filipe Carvalho