A reinvenção dos Vinhos na Madeira
Quando falamos da ilha da Madeira uma das primeiras imagens que nos ocorre é a do Vinho da Madeira, isto se partirmos do pressuposto que se é um amante de Vinho.
Praticamente desde os tempos da descoberta da ilha (séc. XV), que se começou a produzir este vinho generoso. O Vinho da Madeira é tradicionalmente obtido através de um processo de vinificação em bica aberta com interrupção da fermentação (mediante adição de alcool vínico), produzindo assim um vinho fortificado (17% - 22% grau alcoólico) bastante apreciado pela sua docura e elegância.
A presença inglesa na ilha e a sua estratégica localização geográfica (na rota de abastecimento de navios que cruzavam o Atlântico) estimularam o desenvolvimento e a disseminação deste produto por todo o Mundo. A história relata que este vinho era bastante apreciado em diversas cortes europeias, sendo inclusivé o vinho escolhido para brindar á assinatura da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América.
Não obstante continuar a ser a principal bandeira ao nível da produção de Vinho, existem atualmente diversos projetos que tentam valorizar o potencial dos vinhos de mesa da Madeira.
Durante a minha última visita a esta ilha encantada, tive a oportunidade de conhecer um projeto vínico liderado pelo audaz produtor Octávio Ferraz que estoicamente tenta dar maior visibilidade aos vinhos de mesa Madeira.
Não existindo propriamente uma tradição familiar na produção de Vinhos, foi-me confidenciado que a ocorrência de uma tempestade que arrasou com a cultura de bananas, viria a determinar a aposta na cultura da Vinha a partir do ano 2000.
Como dizia o meu Avô, há males que vêm por bem ...
Através de produção própria e de alguma uva comprada, o Professor Octávio produz atualmente cerca de 6000 garrafas - Xavelha (Tinto) e de Palmeira e Voltas (branco), utilizando nos seus lotes as castas Verdelho, Malvasia fina, Sercial, Ansburger, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tinta Barroca, entre outros (sob a consultoria do conhecido enólogo Paulo Laureano).
No decurso de uma visita guiada ás suas instalações tive o previlégio de provar os Palmeira (2015, 2016) e de participar numa vertical do Xavelha (2011, 2012 e 2013). Dizer que os vinhos eram somente corretos seria demasiado redutor da minha parte, pois encontrei vinhos de um caratér forte e elegante que me transportaram para terroirs mais exóticos.
Acredito que o Vinho Madeira (generoso) continuará por muito mais tempo a merecer as luzes da ribalta no panorama internacional, mas não podemos menosprezar o surgimento dos vinhos de mesa da Madeira que começam a despontar de uma forma muito consistente e profissional.
Um brinde á ilha da Madeira e ás suas magnifícas Gentes ...
Filipe Carvalho