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VINHOeXIMA

VINHOeXIMA

Dos Young Mavericks à afirmação dos vinhos portugueses nos EUA.

06.05.19, VinhoeXima

 

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Passei recentemente duas semanas a viajar por Terras do Tio Sam, onde para além dos meus afazeres académicos, tive a oportunidade única de contatar de perto com a realidade vínica nos EUA.

 

Começando o meu périplo pela cidade berço do movimento hippie nos anos 60, San Francisco combina de forma harmoniosa os traços vitorianos da cidade velha com os modernos arranha-céus que servem de sede a uma miríade de empresas de base tecnológica que foram incubadas muito perto dali, na famosa Silicon Valley.

 

O sucesso económico de San Francisco cedo atraiu pessoas de todo o Mundo, desde o início da corrida ao ouro em meados do século XIX até aos nossos dias com a explosão e desenvolvimento de inúmeras start-up. No meio dessa amálgama de culturas foi sem grande surpresa que percebi que existe uma cultura vínica bastante enraizada, a que não é alheio o fato de estar enquadrada na principal região produtora de vinhos - Califórnia. Esta região, com cerca de 5,217 produtores (Bonded Wineries), representa atualmente cerca de 90% da produção nacional de Vinho (21.5 milhões de hectolitros).

 

A apenas 100 km de San Francisco, encontramos a principal zona vinícola californiana – Napa Valley, onde grandes produtores, como E. & J. Gallo e a Constellation Brands, coabitam com numerosos pequenos produtores familiares, como é o caso da Coppola Winery (do conhecido realizador Francis Ford Coppola).

 

Para além de ter “importado” imenso conhecimento do Velho Mundo, esta região conta com o valioso suporte técnico do Departamento de Viticultura e Enologia da Universidade de Davis (UC Davis), responsável pela formação de grandes nomes da enologia local e onde atualmente se destaca a ascensão de um grupo de jovens valores (Wine Mavericks) que estão a questionar o status local ao produzirem vinhos com estilos completamente diferentes (minimalistas e com enfoque maior na sustentabilidade).

 

Com um mercado de cerca de 316.000 milhões de habitantes, os EUA são atualmente os maiores consumidores mundiais de Vinho (32.6 milhões de hectolitros em 2017), com o género feminino a destacar-se no consumo das principais categorias – Champanhe, Espumantes e Vinhos de mesa.

 

Terminada a experiência na costa oeste era altura de cruzar este imenso país para chegar à outra costa e aquela cidade que muitos apelidam de Big Apple – New York.

 

No meio do bulício das multidões e do ritmo alucinante dos dias, transparece uma cidade habituada a assumir o papel de centro de decisão mundial. E com o enorme poder económico dos seus habitantes, associa-se indissociavelmente um gosto bastante exigente ao nível dos principais prazeres da vida – Comer e Beber.

 

Grandes nomes da cozinha mundial marcam presença naquela que é a maior concentração de restaurantes de estrelas Michelin por metro quadrado.

 

Os vinhos assumem um papel preponderante nesta equação, onde a procura por excelência é a palavra de ordem, com a afluência de vinhos dos quatro cantos do Mundo.

 

Os vinhos de Portugal estão presentes nesta grande montra mundial, embora ocupando um espaço ainda bastante tímido nas principais cartas de vinhos, mas com uma tendência gradual de crescimento. Segundo conversas mantidas com duas garrafeiras bem situadas (Central Park e Wall Street), para além dos vinhos verdes, os nova-iorquinos estão cada vez mais interessados em experimentar outros vinhos portugueses, com a touriga nacional e mais recentemente a baga a captarem a atenção destes exigentes consumidores.

 

A qualidade e o carácter singular que é atribuído aos vinhos portugueses, juntamente com uma excelente relação qualidade-preço, levou a que Eric Asimov, o principal colunista de vinhos do New York Times tenha visitado o nosso país por diversas vezes e advogado que os vinhos portugueses são um verdadeiro tesouro ainda desconhecido pelos norte-americanos.

 

Após duas semanas neste país fascinante, onde vivi intensas experiências profissionais e pessoais, era chegada a hora de regressar a casa.

 

Vejo pela janela do avião o luar resplandecendo no rio Hudson e penso, em jeito de despedida, como me sabia bem agora beber novamente um copo daquele Zinfandel da Screaming Eagle.

 

Simplesmente Legendary!

 

 

Filipe Carvalho