Não sendo um fenómeno particularmente recente, continuamos a ser surpreendidos quase diariamente por notícias de falsificação de Vinho.

A contrafacção de produtos constitui uma séria ameaça para a economia global, estimando-se que represente uma perda de valor na ordem dos 5% - 7% do comércio mundial. A rápida propagação deste fenómeno acarreta grandes riscos para a manutenção de postos de trabalho a nível global, bem como para a própria segurança dos consumidores.

Quem esta atento ao Mundo do Vinho certamente estará familiarizado com o nome Rudy Kurniawan, um cidadão Indonésio que chegado aos EUA no ano 2000 começou a fazer nome com a venda e licitação de vinhos raros. As elevadas somas arrecadadas nestes leilões (a rondar os 30 milhões de Euros) começaram a criar algumas suspeitas, tendo culminado com uma investigação por parte do FBI em 2012 que encontrou garrafas, rótulos e outros acessórios na sua casa indiciando um esquema bastante elaborado de burla de Vinhos Premium (colocava vinho corrente em garrafas de vinho de marcas famosas).

No início deste ano o sector seria abalado novamente por mais um escândalo em França. No âmbito de uma investigação levada a cabo pela organização nacional de anti-fraude, descobriu-se que um grande armazenista da região do Rhône vendeu cerca de 19.000.000 Litros !!! (sim, é verdade) de Vinho falsificado com rótulo da região Côtes-du-Rhône.

Ao longo dos anos, o sector tentou combater este flagelo, através da introdução de sistemas anti-fraude com vista a assegurar a autenticidade do Vinho. Desde a introdução de marcadores nos rótulos e embalagens (imperceptíveis a olho nu), passando pela colocação de selos com códigos QR (código de barras), vários tem sido os sistemas testados para minimizar este problema.

A medida que o sector vai encontrando novos sistemas de protecção, os prevaricadores vão se adaptando e se tornando mais sofisticados nos seus esquemas fraudulentos.

Felizmente estamos a assistir ao surgimento de uma disrupção tecnológica que poderá trazer profundas mudanças em vários sectores de actividade – BLOCKCHAIN. A tecnologia Blockchain conhecida por estar na base do surgimento das criptomoedas, assenta num conceito contabilístico de “livro-razão” em que as transações/informações são registadas e validadas em blocos de dados que por sua vez estão ligados em corrente a outros blocos, tornando quase impossível a ocorrência de fraudes.

A aplicação desta nova tecnologia está já a ser testada em diversas áreas, que vão desde a banca comercial, registos imobiliários, validação de eleições e mesmo no sector do Vinho.

Recentemente, uma startup chamada Everledger desenvolveu em parceria com Maureen Downey (reconhecida perita internacional em fraude de vinhos), o Chai Wine Vault. De acordo com esta empresa conseguiu-se pela primeira vez certificar e autenticar uma garrafa de vinho premium (Margaux 2001) nesta plataforma através da tecnologia blockchain.

Através da assinatura digital criada para esta garrafa, será possível a qualquer momento saber diversas informações, tais como a origem do Vinho, locais de armazenamento, bem como a identificação do seu proprietário actual.

Neste espírito, a Ernest & Young desenvolveu igualmente, em parceria com a empresa italiana EzLab, uma solução designada de Wine Blockchain, onde através de um “rótulo inteligente” consegue-se rastrear e certificar todo o ciclo de vida de uma garrafa de vinho italiano, desde a sua origem, processo produtivo e características organolépticas. O consumidor necessita apenas de usar o seu smartphone e fazer o scan do código QR inscrito no rótulo da garrafa para saber tudo acerca daquele vinho.

Ainda é cedo para afirmar se a tecnologia Blockchain será o tal D. Sebastião ansiosamente aguardado por coleccionadores, investidores ou simplesmente amantes de Vinho, mas como diz o provérbio popular – “Casa roubada, trancas à porta”.

Saudações Vínicas