VINHOS EXÓTICOS …
Quando falamos em produtores de vinho, rapidamente nos vem à cabeça países como a França, Espanha, Itália, Portugal (Velho Mundo), Chile, Austrália, África do Sul (Novo Mundo), entre outros. Mas o que a maioria das pessoas não sabe, é que em zonas remotas do nosso planeta, e muitas vezes em condições naturais muito adversas, se produz vinho, a que eu gosto de apelidar de Vinhos Exóticos.
Neste artigo gostaria de partilhar, alguns exemplos e curiosidades acerca da proveniência insólita de alguns vinhos. Começando por África, desde logo nos deparamos com o norte do continente, banhado pela bacia mediterrânica, onde são produzidos vinhos de grande qualidade, como são os casos dos vinhos marroquinos, argelinos, tunisinos, egípcios, libaneses e israelitas. Esta zona tem um historial muito longo, que remonta ao tempo dos fenícios, gregos e romanos, mas que actualmente se encontra muito ligada a interesses de produtores de origem francesa.
Ainda em África, sabia que se produz vinho na Ilha do Fogo em Cabo Verde? Pois é, nas encostas do vulcão da Ilha do Fogo, produzem-se vinhos (Vinho do Fogo) há quase 100 anos. As vinhas são cultivadas a uma altitude entre os 1500 e 2000 metros e não necessitam de irrigação ou adubos químicos, já que favorecem de um microclima (frio e ar marítimo) e de um solo vulcânico, envolvido em adubo animal.
Quem poderia imaginar que no meio no oceano pacífico, na polinésia francesa se produzia vinhos. Numa das ilhas do Tahiti está a única vinícola em atol do mundo que produz o Vin do Tahiti. O solo é composto basicamente de iri iri (corais mortos), enriquecido com um composto de plantas. Além disso, foram plantadas palmeiras em volta dos vinhedos, funcionando como uma barreira contra os ventos marítimos. O resultado é uma rara e exótica mistura entre o sabor dos atóis e os aromas suaves de frutas vermelhas.
Depois de ter viajado por latitudes mais quentes, irei falar agora do vinho do gelo – o Icewine, considerado por muitos com uma obra-prima da vitivinicultura. Um néctar cujo rendimento é tão baixo que uma videira chega a produzir apenas uma garrafa. O Icewine é produzido a partir de uvas que foram deixadas na videira muito para além da época normal, congelando devido às baixas temperaturas que se fazem sentir no Inverno nessas regiões. Os açúcares e outros sólidos dissolvidos não congelam, mas a água sim, permitindo um mosto mais concentrado, produzindo assim um vinho com um sabor bastante adocicado e recheado de aromas, que é normalmente bebido como sobremesa. Diz-se que foi descoberto por acaso na Francónia (Alemanha), no final do século XVIII, mas só em meados do século XX os viticultores alemães começaram a produzir eiswein (designação alemã para este tipo de vinho) de forma intencional e em escala. Chegou ao Canadá no final da década de 70 e a sua produção cresceu significativamente a partir dos anos 90, de tal forma que hoje é o maior produtor mundial de icewine, tendo assumido a posição de ícone do país.
Podemos ainda encontrar inúmeros outros locais e produtores de vinho que à partida poderíamos considerar como improváveis ou até impossíveis, mas desde as estepes das antigas Repúblicas Soviéticas, passando pela China, Índia e até pelas vinhas plantadas em vasos flutuantes no Cambodja, o homem desafia a natureza com vista a obter o tão desejado néctar.
Tendo recolhido alguns relatos históricos acerca de alguns testes, e conhecendo a extensão e os diversos microclimas existentes neste País, acredito solenemente que Moçambique poderá a médio prazo inscrever o seu nome no painel dos países produtores de vinho.
Como diria o Poeta: “Sempre que o Homem sonha, o Mundo pula e avança”.
Saudações Vínicas
Filipe Carvalho